Jesus estreia na altitude e divide responsabilidades no Flamengo
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Entre muitas características marcantes de Jorge Jesus no Flamengo, está a centralização do direcionamento do trabalho. Seja na técnica, física ou taticamente, tudo acontece no dia a dia rubro-negro sai da cabeça do português. Na preparação para a final da Recopa, não foi assim. O motivo? A altitude.
O duelo desta quarta-feira contra o Independiente Del Valle, às 22h30 (de Brasília), no estádio Atahulpa, reserva um raríssimo momento de ineditismo nas décadas de carreira do Mister no futebol. Os 2.850 metros de altitude de Quito fizeram com que JJ pedisse “socorro” e colocasse a preparação nas mãos do chefe do departamento médico, Márcio Tanure.
– Sempre ouvi dizer da complicação de jogar com essas equipes com altitude em relação ao nível do mar. Não tenho experiência nenhuma disso. Assim, vou fazer aquilo que a equipe médica e fisiológica do Flamengo tem de experiência. Já estamos agindo em cima disso. Durante a semana, o Dr. Tanure está trabalhando, mas minha experiência é zero.
Sei que os jogadores cansam mais e têm dificuldade de respirar. Nunca estive na altitude como treinador, nem como jogador. Por isso, vou fazer o que a equipe médica do Flamengo transmitir – disse o português.
O Flamengo já jogou 19 vezes com altitude acima de 2.000m. São 7 vitórias, 3 empates e 9 derrotas.
Continente mais extenso do mundo, a Europa não conta com países nestas condições. A medicina aponta que a altitude passa a fazer efeitos que interferem na prática esportiva a partir de 2.000m acima do nível do mar. E não é de hoje que a realização de partidas neste cenário gera debate na América Latina.
Mais precisamente, a altitude é uma questão desportiva em seis países na América Latina: Chile, México, Peru, Bolívia, Equador e Colômbia. Um total de 18 cidades nestes países possui estádios acima de 2 mil metros, com recorde para Potosí, na Bolívia, com 3.967, onde o Flamengo já esteve duas vezes (2007 e 2012).
– Conversamos com o Mister e ele perguntou qual a metodologia aplicada pelo clube, uma vez que não tem vivência no tema. Contamos nossas experiências, demos sugestões e ele deu autonomia para seguirmos com o mesmo protocolo. A maioria dos jogadores atuou na altitude no ano passado, se adaptaram e apresentaram bom resultado – disse Dr. Tanure.
Em 2019, na campanha do título da Libertadores, o Flamengo também esteve em Quito e foi derrotado pela LDU por 2 x 1. Já há previsão de retorno à cidade equatoriana na edição deste ano: o Del Valle também é rival rubro-negro pelo Grupo A.
– Desde que soubemos dos jogos, começamos a seguir o protocolo que usamos há algum tempo. Os jogadores fazem avaliações da capacidade respiratória com aparelho específico. Cada um tem um índice e começamos um trabalho de musculatura inspiratória.
– Trabalhamos para aumentar a capacidade de oxigênio toda vez que respiram e terem a sensação de jogar em hipóxia com essa dificuldade. Há ainda acompanhamento médico e nutricional. Usamos medicamentos e suplementos que fazem com que aumente a capacidade de ligação do oxigênio na hemoglobina, visto que o ar rarefeito tem menos moléculas de oxigênio – detalhou Tanure.
Por fim, o chefe do departamento médico do Flamengo avisou:
– São medidas para minimizar os efeitos que nunca vamos conseguir neutralizar. Aí, só morando lá ou treinando por um período mais longo. Mas temos obtido sucesso com essas intervenções para melhorar o máximo dentro da nossa limitação a performance.
Ao longo da história, o Flamengo entrou em campo na altitude 19 vezes: são sete vitórias, três empates e nove derrotas. Confira todas as partidas:
Bolívia
1981 – Flamengo 2 x 1 Jorge Wilsterman – Cochabamba – 2.560m
1983 – Flamengo 1 x 3 Bolívar – La Paz – 3.640m
2007 – Flamengo 2 x 2 Real Potosí – Potosí – 4.067m
2012 – Flamengo 1 x 2 Real Potosí – Potosí – 4.067m
2014 – Flamengo 0 x 1 Bolívar – La Paz – 3.640m
2019 – Flamengo 1 x 0 San José – Oruro – 3.735m
Colômbia
1952 – Flamengo 1 x 4 Milionários – Bogotá – 2.640m
2002 – Flamengo 0 x 1 Once Caldas – Manizales – 2.153m
2018 – Flamengo 0 x 0 Santa Fé – Bogotá – 2.640m
Peru
1952 – Flamengo 7 x 4 Seleção de Arequipa – Arequipa – 2.335m
2008 – Flamengo 3 x 0 Cienciano – Cusco – 3.399m
Equador
1952 – Flamengo 6 x 3 Boca Jrs de Cali – Quito – 2.850m
1966 – Flamengo 2 x 1 Emelec – Quito – 2.850m
2019 – Flamengo 1 x 2 LDU – Quito – 2.850m
México
1962 – Flamengo 2 x 2 Seleção do México – Cidade do México – 2.250m
1967 – Flamengo 1 x 2 Necaxa – Cidade do México – 2.250m
1987 – Flamengo 0 x 1 Cruz Azul – Cidade do México – 2.250m
1987 – Flamengo 0 x 3 América – Cidade do México – 2.250m
2008 – Flamengo 4 x 2 América – Cidade do México – 2.250m
Com G1