Exército anuncia reforço de tropas para conter aumento de homicídios no Ceará durante motim de policiais

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O comandante da 10ª Região Militar do Ceará, Fernando da Cunha Mattos, afirmou neste sábado (22) que o reforço que o Ceará recebeu das tropas federais foi “inicialmente insuficiente” para a Garantia da Lei e da Ordem durante o motim de policiais militares.

Exército vai manda mais 150 homens para reforçar a segurança no Ceará

Isso explica, segundo o comandante, o aumento no número de homicídios durante o motim dos policiais. Entre 6h da quarta-feira (19) e a manhã deste sábado, foram 88 homicídios no estado. Até antes do motim, o Ceará tinha uma média de seis assassinatos por dia.

“A tropa está iniciando a sua presença agora, então os efetivos estavam inicialmente muito limitados, por isso o Comando do Nordeste enviou novas tropas, de quatro estados, pra dar um volume de tropa adequado para missão. Os meios inicialmente estavam insuficientes”, afirmou Mattos.

Com a aplicação da Garantia da Lei e da Ordem, o Exército assume o controle da Operação Mandacaru, como foi batizada a ação para garantir a segurança durante o motim de policiais militares. As equipes do Raio, Choque e Cotar – da Polícia Militar do Ceará – passam a responder às ordens do Exército durante a Operação Mandacaru.

Atualmente, a Operação Mandacaru conta com:Agentes do Exército realizam a segurança em ruas próximas ao Comando da 10ª Região Militar, no Centro de Fortaleza — Foto: José Leomar/SVM

2,5 mil soldados do Exército

150 agentes da Força Nacional

212 policiais rodoviários federais que foram deslocados de outros estados

Policiais do Raio, Choque e Cotar

Poder de policiamento

Ainda conforme Mattos, o Exército vai começar neste domingo (23) a exercer o poder de polícia nas ruas de Fortaleza, medida que deve reduzir os homicídios na capital cearense.

“Essa tropa, aí sim, ela vai começar a partir de amanhã as funções da Garantia da Lei a e da Ordem, o policiamento ostensivo. Quando o policiamento ostensivo está ausente ou limitado, obviamente a segurança pública de alguma maneira fica comprometida.”

Outra medida que será adotada será o uso de veículos blindados. “Os blindados serão utilizados para garantir a segurança de quem está dentro. Será um reforço no patrulhamento”, explica o comandante do Exército no Ceará.

Carros das forças de segurança do Ceará continuam com pneus furados ao redor do 18º Batalhão da Polícia Militar.  — Foto: Fabiane de Paula/SVMAumento no número de homicídios

De acordo com os dados do Monitor da Violência do G1, mesmo com a redução de 50% no número de crimes violentos entre 2018 e 2019, o Ceará ainda registrou 2.235 assassinatos no ano passado.

Os 88 homicídios contabilizados em apenas três dias deste mês já equivalem a 53% do total registrado em fevereiro de 2019, quando ocorreram 1.364 mortes no estado.

Resumo:

5 de dezembro: policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.

31 de janeiro: o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.

6 de fevereiro: data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.

13 de fevereiro: o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.

14 de fevereiro: o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.

17 de fevereiro: a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.

18 de fevereiro: três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.

19 de fevereiro: batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.

20 de fevereiro: policiais recusaram encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo Governo do Ceará para chegar a um acordo.

21 de fevereiro: tropas do Exército começam a atuar nas ruas do Ceará.

Policiais afastados

Carros das forças de segurança do Ceará continuam com pneus furados ao redor do 18º Batalhão da Polícia Militar.

O governo do Ceará afastou, neste sábado, 167 policiais militares que participam da paralisação. O afastamento dos envolvidos no motim deve durar 120 dias e os agentes já serão retirados da folha de pagamento do governo a partir deste mês.

A abertura de processos disciplinares contra os militares afastados ocorrerá de duas formas. A primeira envolve os inquéritos militares, cujo julgamento acontecerá na Justiça Militar. O segundo consiste no procedimento administrativo disciplinar realizado pela Controladoria Geral de Disciplina (CGD).

Reivindicação de policiais

Os PMs têm feitos os motins para pressionar o governo por aumento salarial. A proposta da gestão é aumentar o salário de um soldado da PM dos atuais R$ 3,2 mil para R$ 4,5 mil, em aumentos progressivos até 2022. O grupo de policiais que realiza as manifestações reivindica que o aumento para R$ 4,5 mil seja implementado já neste ano.

Na noite de quinta-feira (20), houve um encontro entre representantes dos policiais que participam do motim e uma comissão de senadores para por fim à paralisação. No entanto, não houve acordo. Um dos pontos discutidos foi a anistia aos integrantes do movimento, mas o governador do Ceará, Camilo Santana, afirmou que o perdão é inegociável.

G1CE