Sem salários, água, uniforme… clube profissional vive situação precária: “Falta tudo. Até comida! ”

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confiançaCampeão paraibano em 1997, Confiança disputa a 2ª divisão do Estadual e tem outros problemas: preparador físico que também é atleta e jogadores como cozinheiro e roupeiro.

O Confiança, da cidade de Sapé, que fica a 42km de João Pessoa, passou 20 anos sem disputar uma competição profissional. E o retorno da equipe para jogar a 2ª divisão do Campeonato Paraibano não é dos melhores. Falta quase tudo. Na concentração, os jogadores já chegaram a ficar sem comida e o salário ainda está sem cair na conta há quase dois meses. O técnico chega a definir a situação do clube como sub-humana.

O comandante Ari Leonard (foto), se transformou em um grande motivador para o elenco. Diz que todos são guerreiros pela situação vivida, uma realidade bem diferente da que ele ouviu da diretoria ao receber o convite por telefone para comandar a equipe.

– Essa equipe não se estruturou para disputar um campeonato de 2ª divisão. Por isso nós temos vários problemas. Desde alimentação, que não é condizente, até material para treinamento, que não temos. Campos para treinamento nós também não temos. Nós temos duas pessoas que têm campo particulares e, às vezes, nos sedem, um deles é o Tadeuzão. Lamentavelmente, não temos condições sem uma alimentação adequada também. Falta tudo. Até comida chegou a faltar. Algumas pessoas que ajudam, às vezes – desabafou Ari Leonard.

Em mais uma tarde de treinamento, no Conjunto do Abel, é perceptível na ida dos jogadores para o campo que falta um uniforme padrão, o que é confirmado por eles. O aquecimento é feito por Yuri, um atleta do time, que é estudante de educação física.

– Mesmo com poucas opções de treinamento, campo, maquinário para treinar a parte física, eu tento dar o meu máximo para preparar essa galera. O campeonato é difícil. Sabemos das nossas estruturas, mas estamos mostrando nossa força de vontade dentro de campo – comentou Yuri.

No intervalo, antes de começar o trabalho com bola, a hidratação acontece com a água retirada de um cacimbão ao lado do gramado. Logo depois, o líquido é coado para retirar as sujeiras.

– Tem cisco dentro, formiga, areia por baixo dela. A gente tira para poder deixar bem limpinha para os jogadores beberem. Se tiver tudo sujo, fica ruim para a gente trabalhar – explicou o roupeiro Lucivando Gonçalves.

Para a recuperação física com gelo depois de treinos e jogos, chamada de crioterapia, eles usam uma caixa d’água. Se hoje o clube passa por isso, convivendo também com a falta de salários, no passado o Confiança trouxe alegrias aos torcedores da cidade, com cerca de 53 mil habitantes. Venceu a elite do Campeonato Paraibano em 1997.

Com o fim do treinamento, alguns atletas seguem para o alojamento. Andam quase 2km. Mas no local a situação também se reflete com jogadores fazendo a função de roupeiro e de cozinheiro.

– Eu mesmo não sou do alojamento, mas sempre visito meus companheiros para dar aquela força. Mas toda vez que chego, eles mesmos estão fazendo suas próprias comidas e lavando suas próprias roupas – comentou o capitão e zagueiro Augusto.

A pré-temporada do Confiança começou no dia 20 de agosto e, no dia 23 do mês seguinte, foi a estreia na 2ª divisão do Campeonato Paraibano. Um início promissor, com vitória. Mas depois a queda de rendimento veio, com duas derrotas e um empate.

O Confiança faz parte do Grupo do Litoral da 2ª divisão, que ainda tem as chaves do Agreste e do Sertão. Apenas o primeiro colocado de cada grupo avança para a semifinal, somados ao segundo melhor classificado; e essa é a única opção no momento para o Bicho Papão, que não tem mais chances de assumir a liderança da chave.

– A gente tem uma grande equipe. Uma equipe que vem fazendo grandes jogos. E tem mais dois jogos pela frente. A gente está trabalhando forte para conseguir as duas vitórias e conseguir a classificação – disse o meia João Lucas.

O presidente do Confiança, José Severino, confirmou o problema e disse que, no momento, amigos do clube estão ajudando para tentar reverter a situação.

– Reconheço a situação do gramado de treino, que está longe do ideal. Mas nunca faltou comida para os jogadores. A alimentação é comprada para o mês inteiro. Não tem cozinheira e os jogadores é quem preparam a comida. Não tem como mudar estas situações para este ano, mas esperamos ter uma estrutura melhor em 2019 – concluiu José Severino.

GE