Ano novo, Novo ano

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 “Diferentemente do que ocorre na matemática, na língua portuguesa a ordem dos fatores altera o produto.” Essa afirmação inicial é confirmada pela Gramática, em relação a alguns adjetivos que “mudam de sentido segundo a colocação”. É o caso, por exemplo, dos adjetivos novo, velho, grande. “Compare: Comprei um carro novo. (Comprei um carro zero.) Comprei um novo carro. (Comprei outro carro, não necessariamente zero”.) “Velho amigo é amigo antigo, do peito. Amigo velho, amigo idoso.” “Napoleão tinha 1,50m. Mas foi um grande homem. Golias tinha mais de 2m. Era um homem grande.”

O calendário civil está contando os dias para o término do ano de 2017 e, a essa altura, as mensagens já fazem referência ao Ano novo que está às portas. Com efeito, em termos de contagem do tempo, 2018 será um Ano novo, em relação a 2017 e, obviamente, aos anos anteriores. No calendário ocidental, a cada período de 365 dias, de 1º de janeiro a 31 de dezembro, a humanidade conhece um Ano novo. Essa é a rotina da história. Assim já está sendo visto 2017, um ano que termina, com feição própria, num olhar local, regional, nacional e internacional. Em qualquer desses âmbitos e sob qualquer aspecto, há uma identificação do rosto de 2017. O Papa Francisco, na Mensagem que escreveu para o 51º Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2018, trata do dramático problema dos “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz”. “Paz a todas as pessoas e a todas as nações da terra! A paz, que os anjos anunciam aos pastores na noite de Natal, (…) é uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta. Dentre estes, que trago presente nos meus pensamentos e na minha oração, quero recordar de novo os mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados. Estes últimos, como afirmou o meu amado predecessor Bento XVI, ‘são homens e mulheres, crianças, jovens e idosos que procuram um lugar onde viver em paz’. (…) E, para o encontrar, muitos deles estão prontos a arriscar a vida numa viagem que se revela, em grande parte dos casos, longa e perigosa, a sujeitar-se a fadigas e sofrimentos, a enfrentar arames farpados e muros erguidos para os manter longe da meta. (…) Todos os elementos à disposição da comunidade internacional indicam que as migrações globais continuarão a marcar o nosso futuro. Alguns consideram-nas uma ameaça. Eu, pelo contrário, convido-vos a vê-las com um olhar repleto de confiança, como oportunidade para construir um futuro de paz.” Por sua vez, a população brasileira faz sua leitura de 2017. Vai constatar, com tristeza, que a crônica jornalística, praticamente em cada dia, noticiou abusos, como a corrupção, e problemas, como a violência, “de Norte a Sul do País”. Os valores roubados pela corrupção e os registros da violência contribuíram para o aumento do sofrimento individual e coletivo.

A humanidade está vivendo um tempo de espera do Ano novo. Mas, ao mesmo tempo, tem a esperança que 2018 chegue com a face de um Novo ano. No Brasil, a sociedade e, especialmente, os eleitores têm a oportunidade concreta de traçar o perfil desse Novo ano, no aspecto político, mediante uma escolha responsável de novos legisladores para as Assembleias Legislativas e para o Congresso Nacional, de novos gestores para os Governos Estaduais e para a Presidência da República. Esse processo passa pela escolha de novos personagens políticos que tenham reconhecida conduta ética. A renovação dos quadros legislativos e executivos, respaldada numa história de bons serviços dos candidatos, é um imperativo de natureza moral, é um dever de consciência cidadã. Sem essa mudança de parâmetro eletivo, tudo continuará “como dantes, no quartel de Abrantes”.

Com fundamentada esperança, a palavra do Papa Francisco fala ao coração das pessoas, do primeiro ao último dia de 2018: “Precisamos de lançar, também sobre a cidade onde vivemos, este olhar contemplativo, ‘isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças (…), promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça’ (…) por outras palavras, realizando a promessa da paz.”

Por Dom Genival Saraiva