O BOM SENSO TALVEZ NÃO RESIDA EM PICUÍ

Por - em 7 anos atrás 1399

Para Alzenado Macedo, com reverência.

Bom senso é a capacidade individual humana de fazer escolhas sensatas e inteligentes com equilíbrio; é ter o dom de enfrentar uma dada situação tomando a decisão mais acertada em relação a ela. Por isso é que quando nossos pais nos mandam “ter juízo” estão dizendo, na verdade, que tenhamos bom senso!

Porém, é fácil observar que a partilha mais justa que Deus fez foi a do “bom senso”, pois todo mundo está satisfeito com sua parte e quase ninguém se considera detentor dos defeitos que lhes apontam. Todos nós pensamos que nossas opiniões são boas e justas, todo mundo acredita no seu bom senso, inclusive eu!  E o resultado mais visível é que, mesmo considerando o outro superior a nós em coragem, beleza, experiência e saúde, nunca o achamos que tem bom senso melhor que o nosso. Essa é a raiz da quase impossibilidade de correção dos graves defeitos que possuímos, já que sempre cremos que estamos fazendo o melhor. Err o grave, pois se sabiamente aceitássemos com humildade a superioridade do julgamento alheio, poderíamos elevar o nosso julgamento a mesma altura, com ganhos pessoais imensos.

E a nossa natureza humana faz persistir essa situação.  Grande parte disso deve-se ao fato de que os cuidados e as despesas de nossos pais visam apenas encher-nos a cabeça de ciência, de decorebas, e nunca de bom senso e de virtude. Indagamos sempre se o individuo tem dinheiro, se é prefeito, se fala inglês ou francês, se escreve em verso ou prosa, se tem um carrão, mas perguntar se se tornou melhor ou se seu espírito se desenvolveu – o que de fato importa – não nos passa pela mente.

Talvez pensando nisso foi que Platão disse  que a saúde, a beleza, a força, as riquezas e tudo o que consideramos felicidade são males para quem tem um juízo errado, enquanto quem possui um espírito bem formado os encara como o que realmente o são. Isso é pura verdade! Observem como quanto mais o indivíduo é inteligente e preparado ele tende a ser humilde e simpático? Enquanto que os despreparados e maus escondem esses defeitos com arrogância e antipatia!

Assim é que somente o bom senso poderia nos conscientizar de que somos neste mundo apenas o que pensamos; contente está quem se acredita contente e não aqueles que os outros imaginam contente. Está na hora de nos libertarmos da prisão que nos enfiamos por causa da opinião alheia, fato que acontece comumente em cidades pequenas. Essa mania de querer imitar os vícios e valores alheios mostra claramente que a vida em si não é um bem nem um mal, torna-se boa ou ruim segundo o que dela fazemos.

Outra barreira grande na busca pelo bom senso e sabedoria é que há muito dificuldade em encontrarmos corações puros e bons. Embora vejamos a prática do mal e do bem em toda parte, se o que o filósofo antigo Bias dizia é certo, de que “a maioria dos homens é também a pior”, ou se existe acerto no livro do Eclesiastes de que “sobre mil não há um que preste”, teremos que nos acostumar com os atos diários de maldade que vemos nas ruas e nas redes sociais, sem muita esperança que o bom senso se generalize na humanidade.

Por tudo isso, se tivermos a sorte de possuir uma “naigadinha” de bom senso, devemos procurar a companhia dos nossos raros amigos e das pessoas honestas e avisadas. Quando encontro uma pessoa dessas converso com ela qualquer assunto que me agrade e interesse, que seja sério ou uma simples “potoca”. Tal conversa é sempre oportuna, pois sempre fica impregnada de experiência, bondade, franqueza e alegria. Um bom companheiro de conversa tem valor até pelo seu silêncio! 

Diante dessa quase impossibilidade de encontrar bom senso e juízo na maioria das pessoas que nos cercam, é preciso que procuremos viver bem, com saúde e respeitando estas imperfeições, tríade que considero a perfeita tradução do bom senso. Por isso, tenho aprendido a duras penas a julgar a vida dos outros pela maneira de como ela terminou; evito julgar qualquer amigo ou conhecido em vida, porque nossa existência sempre pode mudar ao longo dos anos.

E diante de tantos exemplos de picuienses que viveram uma vida íntegra, equilibrada e voltada para a bem estar da família e dos contemporâneos, como foi a vida plena do querido Alzenado, memória eterna dos feitos e dos fatos picuienses, só posso afirmar que o bom senso existe, e ele reside em Picuí em muitos lares.

Alisson Pinheiro